quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Em conflito.

Imagino o oceano, qualquer um, um qualquer, não interessa, interessa o que é: mar, vasto, a perder de vista, pontilhado por eventuais recifes, ilhas, continentes, movido por correntes, ventos, inundado de vida por dentro, escondida.
Vejo-me num pequeno barco, daqueles botes de pesca com velas, que não sei o nome, mas que sei a imagem.
Sou marinheiro, viajante, comerciante, pirata, navegador, comandante, turista, pescador, sou todos estes porque sou para onde quero ir: Casa.

...

Do meio do nada, por entre a ondulação que embala surge uma leve brisa. Olho a bússola: vem de Norte. Iço a vela e começo o meu caminho.
Navego, aparentemente sem rumo, mas guiado pela esperança desta brisa que me pôs a caminho, que me fez içar a vela, que acordou o barco do embalar hipnotizante das ondas.
Dias passam, e vem o tempo de novo sem vento. Pego os remos e aproveito a inércia que levava. Surge novo vento, mas desta vez contrário ao meu sentido: vem de Sul.
E agora? Iço e a vela e volto para trás? Se está vento se calhar é melhor aproveitar...além disso nem sei se este é o sentido para casa, estou perdido.
Espero, não iço a vela...e começo a ficar cansado...suspiro.
Hem?!
Que sabor é este?!
Espera não é sabor, é um perfume! É o perfume de Casa!! E é o vento que o trás! Então é mesmo para onde ia!
Pego nos remos, e movo os braços com força redobrada: sei que estou no caminho certo!
O vento volta a parar.
Uma ilha. Mesmo no meio do meu caminho...e é extensa. Tenho de a contornar. Posso levar horas, alguns dias talvez.
Vento Norte de novo. Mas agora não posso ir para Sul, ou encalho na ilha... caramba, que má altura para aparecer.
Remo a contornar a ilha direito a Ocidente, sempre com o vento Norte a fustigar-me o rosto e arrefecer o meu corpo.
A ilha é longa, os meus braços fracos, e o vento não ajuda.

...

Um dia este marinheiro, viajante, pirata, comerciante, navegador, turista, pescador, vai perceber que não há ventos contrários quando se sabe a técnica da bolina. Vai perceber que os ventos estão sempre a dar-lhe força para chegar a Casa. Vai conhecer o caminho sabendo seguir o perfume de Casa que os ventos lhe trazem. Vai acreditar que está no sentido certo e continuar a remar mesmo quando os ventos não se fizerem sentir.
Até lá, a viagem irá parecer longa, dura, e às vezes sem sentido.

Mas de que outra maneira pode ele aprender?

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